Marcelo Dutra da Silva
O ESG como estratégia de desenvolvimento regional
Vivemos em região privilegiada, com riquezas e potencialidades que precisam ser exploradas e mais bem distribuídas, a bem do crescimento econômico e qualidade de vida. Perdi as contas de quantas vezes já repeti isso, mas tenho insistido na fala em todas as oportunidades que tenho. O nosso desenvolvimento de base econômica regional somente vai acontecer se construído de dentro para fora e em atenção aos princípios da sustentabilidade. Ou seja, quando o sucesso econômico, o emprego, a receita e a renda vierem acompanhados de qualidade no ambiente de trabalho, bem-estar social e proteção do meio ambiente.
Regiões prósperas tornaram-se prósperas porque se descobriram e se desenvolveram a partir de seus próprios recursos, o que inclui, para além da abundância mineral, áreas cultiváveis e disponibilidade hídrica, também a capacidade de fazer, de transformar e produzir com eficiência e qualidade. Aqui temos tudo isso. Um povo forte e trabalhador, com laços culturais de apego à terra e às tradições; um espaço rico e produtivo, com capacidade instalada, com indústrias, comércio pujante, serviços e um porto que nos conecta com o mundo e com novas perspectivas de investimento; uma região que concentra conhecimento, inovação, formação acadêmica... Duas das cinco universidades gaúchas ranqueadas entre as duas mil melhores universidades do mundo estão aqui, UFPel e Furg.
Entretanto, ainda precisamos vencer algumas barreiras. Somos pouco unidos ou talvez seja possível dizer que temos uma forte tendência à segregação. Isso acontece na política, entre grupos adversários ou até entre ideias contrárias; acontece entre classes sociais, entre os que empregam e trabalham, entre os que defendem a ideia de desenvolvimento, com impacto positivo no coletivo e os que estão mais preocupados com o crescimento a qualquer preço, com o objetivo de atender os próprios interesses. E isso só atrapalha!
Quando nos unimos, nos tornamos mais fortes. A capacidade de evocar potenciais de desenvolvimento aumenta quando as forças vivas de uma região se unem e se esforçam em torno de prioridades e objetivos comuns. Nós podemos fazer isso e o ESG (sigla em inglês para ambiental, social e governança) pode ser estratégico neste processo, de construção de um caminho mais justo e seguro, na direção de um modelo de desenvolvimento que atenta para as melhores práticas, para o uso sustentável dos recursos, para o bem-estar social, proteção do meio ambiente e prosperidade econômica do ambiente de negócios.
A adequação de empresas, corporações e atividades é uma tendência global e por aqui não poderá ser diferente. O único risco é deixar para depois. Já esperamos demais! Deixar para lá e seguir em frente, sem considerar os novos tempos, é um erro fatal que pode nos deixar no atraso, presos a práticas ultrapassadas. Pior, há uma grande chance de sermos invadidos por empresas de outras regiões, que já operam dentro dos protocolos e diretrizes ESG, prontas para substituir os fornecedores locais, sobretudo as empresas de pequeno e médio porte. É o que podemos acabar vendo em Rio Grande, na próxima onda de investimentos bilionários, no campo da energia, se nada for feito para acelerar a cultura sustentável das empresas. E se for assim, os stakeholders locais (as partes interessadas), aqueles que já compõem a base do desenvolvimento regional, literalmente, ficarão a ver navios.
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